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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Realidade Aumentada

Comecei a assistir Sword Art Online 2 através do link que meu primo enviou para mim.
Para quem não conhece, o anime conta a história de um grupo de jogadores que são aprisionados em um jogo de realidade virtual e para conseguir se deslogar e acordar eles precisam chegar até o último nível e vencer.
A conexão com esse mundo virtual e realizada através do "nervegear", um hardware em forma de capacete que tem a capacidade trocar informações com o cérebro.
A ideia do "nervegear" não é recente. Já possuímos aparelhos com capacidade de leitura da atividade cerebral, como no eletroencefalograma, apesar de mesmo estes equipamentos não serem ainda tão precisos e nem tão desenvolvidos a ponto de capitar informações de regiões mais profundas.
Ainda assim poderíamos dizer que o "download" de uma pequena quantidade de informações já é viável.
...mas e o upload?
Na verdade também já possuímos uma pequena tecnologia para o upload, mas essa transmissão não é "Wifi" como no eletroencefalograma. Ela depende de uma conexão física entre um dispositivo mecânico e o biológico... Nossos nervos.
Mas novamente nos falta a precisão.
O cérebro não é um único núcleo, mas sim uma somatória de núcleos que dividem as tarefas e informações interagindo uns com os outros.
Mapear esses núcleos não é a única coisa importante, também é necessário entender como eles processam as ondas elétricas transmitidas pelos nervos sensoriais.
Por exemplo... A luz refletida nos objetos entra pelos nossos olhos e acaba no nosso cérebro. Como ele faz pra determinar cada cor?
Nossa palheta de cores já existe. Foi programada durante nossa evolução... Mas qual é o codigo de cada cor?

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Encerrando

Post mood: Gackt - Emu for my Dear

E é com esta publicação que termino meu disciplinator.
Foram trinta dias consecutivos de muito photoshop e escrita.
Nem sempre eu soube o que photoshopar, nem sempre eu soube o que escrever. Tive que manejar as situações conforme iam acontecendo.
Por vezes eu sequer sentia vontade de fazer qualquer uma das duas tarefas.
Ocasiões em que ficar jogando parecia simplesmente melhor. Em que dormir parecia melhor.
Ou até mesmo ficar pasmando olhando para tela do computador.
Mas agora, olhando pra trás, fico feliz que tenha conseguido cumprir com essa tarefa...
Não foi tão simples quanto parece.
Através dessa simples missão de escrever durante trinta dias consecutivos sem pular um sequer, graças ao auxilio da minha namorada, fui capaz de perceber que o meu maior bloqueio era devido ao fato de acreditar que estava fazendo algo errado.
Tinha a sensação muito clara, cada vez que colocava uma palavra na tela ou no papel, de que não deveria fazer aquilo.
Não deveria escrever... Não deveria compartilhar meus pensamentos... Minhas emoções...
As palavras deveriam permanecer em silêncio dentro de mim. Quietinhas e escondidas, pra sempre talvez.
Notar isso fez toda a diferença.
Notar isso tornou possível dizer para mim mesmo que faria mesmo que parecesse errado. Que faria mesmo que me recriminasse por fazer.
Pude dizer na minha própria cara que independente das consequências, eu escreveria.
...E agora passo a pensar que muitas coisas na vida talvez sejam simplesmente desse jeito.

"Eu vou até o fim independente das consequências."

O que eu sentia era medo.
Medo de escrever...
Mas não é justo permitir que os medos limitem minhas ações

Aprendi também com o photoshop que eu realmente gosto de arte digital.
Gosto de fazer montagens. De escolher imagens no deviant art ou onde quer que seja. Ler tutoriais e colocá-los em prática.
Gosto de ver o resultado final e também da sensação de que não aguento mais trabalhar numa mesma arte.
Gosto tanto de tudo isso que é complicado parar de photoshopar mesmo quando meu pescoço começa a doer por causa da falta de ergonomia do meu local de trabalho.
Não sei se algum dia realmente me tornarei bom nisso. Mas também não sei o quanto isso é relevante.
Sei que, sendo uma coisa que eu gosto, não voltarei a me sabotar.

Sim... Pois eu percebi o quanto eu sempre me sabotei em relação as coisas que eu gosto.

E não vou negar que é complicado mudar isso.
Por que, mais uma vez, eu tenho medo de mudar.
E assumir as consequências das minhas mudanças.

...O que acaba sendo irônico já que eu, provavelmente mais do que a maioria das pessoas ao meu redor, sei o quanto é inviável não mudar.
"Tudo muda... Se esforçar pra permanecer o mesmo é tolice." - Estas sempre foram exatamente minhas palavras. - "Se não posso evitar mudar, a saída mais inteligente então é escolher como vou mudar."

Então, mais uma vez, eu digo pra mim mesmo que independente das consequências,  eu farei isso.
Eu vou mudar, assim como já tenho mudado.

"Talvez o segredo seja não fazer as mesmas coisas que fazemos...."
"Talvez seja fazer qualquer coisa diferente."

Com o fim destes disciplinators eu descobri muita coisa ao meu respeito.
Também consegui evoluir ferramentas que sempre estiveram aqui dentro.
O próximo passo é aprimorar isto ainda mais.

Ainda resta me presentear por ter concluído a tarefa. E assim eu o farei!

Mas já penso nos próximos trinta dias e como eles podem ser uteis.


Vou deixar tudo o que há aqui dentro fluir!

domingo, 22 de junho de 2014

I'm too sexy for my shirt

E lá fui e minha linda namorada numa experiência sem precedentes! Compras no shopping!
Mas com o detalhe de que não eram compras para ela, mas sim para este que vos escrevinha neste momento.
Sempre fui péssimo com isto.
Escolher roupas ou qualquer outro artefato para mim nunca foi algo simples.
Uma parte do meu cérebro sempre fica constantemente dizendo coisas muito convincentes a respeito dos motivos pelos quais eu não deveria adquirir fosse o que fosse que eu fosse comprrar...

...é muito "fosse".

Mas desta vez acho que me superei!
Nos fosses e nas compras.
Foi muito divertido e acabei adquirindo, ao longo de umas 3 horas, um conjunto de 4 camisetas muito legais.
Tudo graças a minha linda namorada!!!
Por seu apoio moral! Sua super capacidade ninja de conhecer lojas legais e seu extremo bom gosto!
Ênfase neste último, já que me deixa mais convencido.
Se ela tiver tanto bom gosto pra namorado quanto tem pra roupas é sucesso! To na pegada do Tom Cruise (só que não).

Agora estamos retornando pra casa, abandonando a padaria para que eu arrume minha mala e mais tarde retorne a São Paulo.
Essa é a parte triste.

Computador Novo

Ainda estou aqui na casa da minha namorada.
Hoje foi um dia e tanto. Apesar de termos acordado mais tarde do que gostaríamos, acabamos descansando bastante.
Parte do que eu precisava fazer para meu trabalho foi realizado com sucesso e também conversamos muito sobre algumas coisas que ainda incomodavam.
Eu acho curioso o fato da comunicação, ainda nos dias de hoje, ser algo tão complicado para os seres humanos. As pessoas se ouvem, mas não costumam se entender.
Felizmente este não é o nosso caso.
Saímos e fomos jantar costela. Depois aproveitamos para passear ainda mais um pouco.
O dia de ontem foi regado a chuva e hoje um pouco mais.
Agora que estou aqui, sonolento e cansado, estou vendo as configurações do computador da minha namorada.
...Vejamos...

Processador: Intel I5 3330 @ 3.00 GHz
Memória: 8gb
Placa de Vídeo: AMD Radeon HD 7700
Uma HD de 500 gb e não faço ideia de que placa mãe...
Nada que o google não resolva e... A placa mãe é Gigabyte, só não sei as especificações da placa.

Seja como for é um pc muito bom, rápido e que muito provavelmente atenderia minhas necessidades.
Penso em procurar algo próximo a isso em SP.
Só não sei quantas polegadas tem esse monitor...
Enfim! Ultima partida de LoL do dia e então, dormir!

sábado, 21 de junho de 2014

Não sei o que escrever

Estou com sono e não sei o que escrever.
Minha namorada está quase dormindo pedindo para eu contar um conto sobre uma puta loira. No entanto, eu não tenho qualquer ideia de conto nesse momento.
Confesso que estou escrevendo mais para não deixar o meu disciplinator passar em branco. Não ter de reiniciá-lo mais uma vez.
Estou muito perto de acabar.
Estou irritado também.
Não sei por que tenho me sentido tão irritado nesses ultimos tempos, mas tenho.
Ao ponto até de me dar tremedeiras.
Talvez eu simplesmente precise arrumar encrenca com alguém. Faz muito tempo que não arrumo encrenca com ninguém, não entro numa discussão ou briga.... Nada do tipo.
Quem sabe?
Seria estranho considerar a possibilidade disso ser uma necessidade psicológica. E se for... Não me parece uma necessidade normal.
Que seja...
Acho que escrevi o suficiente para quem estava sem ideia nenhuma.
Vou dormir por que já está bem tarde.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Auto descobertas

Post mood: Antennasia - The Cat in the Mirror (e outras)

Descobri recentemente uma série de coisas a meu respeito que até então não fazia ideia.
Informações extraídas do inconsciente que continuam a aparecer e mudar minha percepção consciente do mundo, de mim e da minha interação com o mundo.
Não existe mais a necessidade de me privar de fazer coisas que gosto.
Muito pelo contrário. Posso testar diferentes coisas afim de reencontrar e trabalhar o fortalecimento disso como faço com o disciplinator, por exemplo.
Penso em continuar de onde lembro ter parado.
É verdade, no entanto, que também não é exatamente tão simples.
Quebrar um processo que mantive por anos a fio exige até mesmo um pouco de coragem.
Sou um tanto maniaco por controle e não consigo me permitir fazer algo sem ter ao menos uma percepção das consequências.
...O que também não deixa de ser curioso.

Eu não quero ser ajudado.
Sinto que isso tudo é algo que preciso fazer sozinho.
Minha auto estima e segurança estão em jogo. Reconhecer estas informações também implica no fato de que agora sou consciente do quanto sou dependente.
E não posso aceitar esta dependência.

Veremos...
Continuo a me esforçar!

terça-feira, 17 de junho de 2014

Um pouco de... Sei lá.

Post mood: Ergo Proxy Opening - Kiri

Entre tantas coisas que vagam em minha mente, perdidas em algum lugar estão as histórias que eu nunca contei.
Histórias sobre mundos que visitei, pessoas que conheci, seres e criaturas magicas que apareceram e voltaram a desaparecer...
Continuo a me esforçar para que, pouco a pouco, estas palavras fluam através de minhas mãos e se materializem nos textos que contarão estas histórias.
Por hora, no entanto, tudo o que consigo escrever é apenas isto...

Lá estava Yue Jaded, diante de um por de sol magnifico.
Naquele sistema solar talvez o sol estivesse morrendo. Talvez ele simplesmente fosse maior que o nosso... Talvez as duas coisas juntas.
Mas no horizonte distante um gigantesco sol vermelho ainda brilhava em fulgor, tingindo o céu numa mistura de laranja e roxo por onde as estrelas começavam a aparecer.
Era um destes mundos onde as plantas parecem ter um perfume mais forte, as frutas possuem um sabor mais forte e os seres ainda não tem capacidade de compreender a sua presença ali.

Yue estava deitado em um morro, encostado em uma pedra e observando o espetáculo.
Ele não pensava em nada, apenas olhava e olhava.

As vezes as coisas são mais simples quando vistas de dentro.
As vezes o que está dentro é pior do que o que está do lado de fora.
No geral quase não sabemos o que queremos.
E quase temos certeza de que não importa o que seja.
...Nós conseguiremos.

domingo, 15 de junho de 2014

Panquecas e Mamilos

Capítulo 3: Sem voltar pra casa

Vou descrever o cenário pra vocês...
Rua Augusta, por volta das duas horas da manhã. Carros e pessoas passando.
A linda garota parada na minha frente com seus encantadores olhos verdes e eu parado na frente dela com a mais perfeita expressão de idiota estampada no rosto.

"Mas o que raios está acontecendo afinal?" - lembro de ter pensado.

Voltamos a caminhar e eu continuei conversando, mas também imerso em meus pensamentos

"Talvez eu simplesmente devesse ir para casa e.. É isso aí."

Mas adivinha só! O metro já estava fechado.
Avaliei as opções e cheguei a conclusão de que talvez o melhor fosse deixá-la no hotel e ir pra casa a pé. Logo em seguida, ao fazer uma auto-avaliação do meu estado etílico, de sono e confusão mental, já não sabia mais se seria uma boa ideia.
Foi só então que notei que desde que aquela história de "beija não beija" começou que eu não estava raciocinando direito.
Apesar de ter topado sair para beber na Augusta, em nenhum momento eu havia parado pra pensar em como faria pra voltar pra casa.
Bem... Só restava então passar a noite no hotel com ela... Pelo menos foi isso que eu propus.

- Isso não vai dar certo. - foi o que ela respondeu.

...E eu realmente me perguntei por que não.
Ainda na outra noite havíamos dormido ambos na mesma cama sem que qualquer coisa tivesse acontecido. Eu entendi que o fato de tê-la beijado talvez mudasse um pouco as coisas e que talvez isso parecesse um pouco conveniente demais para mim...
Mas não era como se ela tivesse correspondido as minhas intenções e eu definitivamente não sou o tipo de pessoa que tentaria forçar algo.
Levando tudo isso em consideração a minha maior preocupação naquele momento era se eu realmente conseguiria dormir sendo empurrado para fora da cama o tempo todo...

"Desde que eu possa descansar até o metro abrir, durmo até no chão..."
Foi o que pensei e talvez tenha até dito isso..

Claro que eu não nego que apesar do cansaço ainda queria beijá-la.
Se pelo menos ela correspondesse...

Sei que fiquei um tanto pensativo em relação a isso e não lembro ao certo o que conversamos e como acabei realmente indo parar naquele quarto no hotel. Terei de consultá-la pra saber como são suas memórias a respeito da ocasião.

É claro que nada aconteceu. Apenas um pouco mais de conversa e sono.

Até então eu tinha uma noção considerável a respeito de como eu funcionava...
Agora minha unica noção era de que alguma forma ela fofamente estava sambando na minha cabeça e eu já não entendia mais nada e muito menos a mim mesmo...

Pelo menos não tive que dormir no chão...

sábado, 14 de junho de 2014

Pensamentos Aleatórios

Post mood: Um monte de músicas do Gackt

Ironicamente não é exatamente tão simples montar um computador aqui em São Paulo.
Se você deseja comprar montado saí um pouco mais caro. Mas mesmo se quiser montar você mesmo terá de conhecer o que está comprando.
...E eu não conheço.
Fiquei tanto tempo for fora dessa área que já não sei mais o que é bom e o que é ruim.
O jeito é ir até a Santa Fifi e pesquisar lá mesmo. Conversar com os lojistas talvez...
É o que eu farei.
Nesse exato momento não sei se é melhor eu tentar dormir e então seguir pra lá ou simplesmente virar a noite acordado e ir direto.
O pior é que definitivamente não tenho paciência pra estudar essas coisas a fundo.
...Nem sei se valeria a pena.
Nas atuais circunstâncias qualquer coisa é melhor do que os computadores que estou usando.
Enquanto decido isso também vejo os links das cruzeiros que mina linda namorada gostou.
Parecem todos muito legais!
Eu quero o cruzeiro com tudo incluso!
Espero que consigamos fazer esse passeio ainda esse final de ano. Seria muito divertido!
Quero muito ver como é a lua cheia no meio do mar e quem sabe até tirar umas fotos.
Hoje pensei em fazer escalada.
Já tinha pensado nisso algum tempo atrás... Vou até procurar onde tem escalada indoor aqui em SP, mas escalar um pedregulho real deve ser muito mais divertido.
Tenho a ligeira impressão que terei facilidade pra tarefa. Quero só ver!
Pular de paraquedas também está nos planos.
Mwahahahahaha! Toda vez que eu penso em todas as coisas acabo lembrando, consequentemente, de que tudo isso depende de dinheiro.
Ainda não comparei as minhas finanças, mas acho que pelo menos tenho trabalhado menos, só ainda não tenho ganhado mais do que antes. Vou continuar bebendo minha água e me esforçando.
Meu disciplinator também está quase no fim!
...Bem, nem tanto...
Já completei quase 20 dias seguidos e logo logo comprarei o meu óculos! MWAHAHAHAHA.
Quando eu era pequeno eu cheguei a usar óculos uma época.
Óculos para descanso, que o oftalmologista chamou...
Na verdade aquela tranqueira não servia pra nada, era só pra dar um charme. Mas como eu era criança e charme não importava, então... Não servia pra nada.
Eu não sei ao certo quando comecei a gostar da ideia de comprar um óculos pra mim, mas já faz algum tempo.
Acho que imaginei que ia ficar legal e é isso aí.
Bem! Logo eu poderei concluir na prática!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Panquecas e Mamilos

Capítulo 2: Um Pouquinho Estranho

Penso que no geral as pessoas sempre reagem de alguma maneira a um beijo roubado. Afinal, não é exatamente a coisa mais comum do mundo...
Imagine de repente alguém te beija... Do nada....
Se for alguém que você já gosta então é muito provável que você também vá beijar a pessoa de volta.
Mas também pode ser o contrário. Você pode não gostar da tal pessoa e ficar muito brava.
Pode discutir com ela, brigar, quem sabe até mesmo dar um tapa ou coisa do tipo.

No meu caso fiquei a ver navios.

As informações que seguiram o beijo foram totalmente inespecíficas.
Nenhuma palavra dizendo para não voltar a fazer ou para repetir.
Nenhuma bronca... Nenhum reforço...
...Então, após o que pareceu uma eternidade, mas que na verdade foram apenas alguns segundos de silêncio desconfortável resolvi que era melhor deixar aquilo tudo pra lá e fingir que nada havia acontecido.

Definitivamente!
Meu eu interior dizia para mim mesmo em alto e bom tom: "-É... Deu ruim... Aponte para o céu através da janela e diga 'OLHA UM AVIÃO LARANJA!' então aproveite o momento de distração para escapar o mais rápido possível para o México! Não! Um pouco mais longe talvez!!! GROENLÂNDIA!"
Por isso eu apenas tentei manter o bom humor e... Não faço ideia do que fiz a seguir.

Esta parte da minha memória definitivamente está um tanto atrapalhada.
Deve ter dado algum bug sinistro uma vez que dentre tantas possibilidades, esta com certeza era uma das que eu nunca havia imaginado que poderia acontecer.

Depois disso seguimos com nossa programação normal.
Ou pelo menos o mais normal possível até o assunto vir a tona.
...E é claro que viria. AINDA BEM, eu acho...
Por que não saber exatamente como me posicionar em relação a coisa toda estava me cutucando por dentro, por mais que por fora eu agisse como se estivesse tudo bem.

As coisas que falamos quando conversamos acabaram me deixando mais aliviado, mesmo que um pouco triste.
Cheguei a conclusão de que ela não me via como nada mais que um amigo e que não deveria voltar a beijá-la daquela forma. Fosse o que fosse que eu sentia era unilateral e pronto. Bastava que eu me virasse com aquilo.
Portanto eu simplesmente procurei agir o mais próximo da maneira que eu achava que um amigo deve agir, mantendo uma distancia segura para que ela não se sentisse incomodada e também para que eu não acabasse gostando ainda mais dela.

E acredito que estava funcionando bem, dentro das possibilidades...

...Pelo menos até chegar a noite e depois de alguns copos de jurupinga ela dizer:

"- Eu não que você não deveria me beijar mais."

Agora pense numa pessoa ouvindo isso depois de ter passado um dia inteiro se sentindo um tanto estranho e talvez até meio desconfortável com a situação. Se esforçando para resistir ao charme daquela garota e respeitá-la como amiga.
É óbvio que fiquei confuso! Mas não nego que também senti uma certa alegria.
Algio como: "- Ah! Então ela também gosta de mim e agora podemos realmente nos beijar!"

E foi exatamente o que fiz...

APENAS PRA RECEBER DE VOLTA AQUELE MESMO OLHAR E NENHUM BEIJO!!!

Pronto...
Agora a situação já estava tão estranha que eu realmente senti vontade de olhar ao redor procurando alguma câmera escondida.
...Só podia ser pegadinha...

E mais uma vez fiquei acreditando que ela estava tirando um barato da minha cara.
O que eu não sabia determinar naquele momento é se queria continuar a beijando ou simplesmente esganá-la.

...Este é o dom... De tirar do eixo até a mais racional das pessoas como eu...

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Panquecas e Mamilos

Prólogo

Quando dei por mim estava sentado no chão e encostado em minha cama. Meus pensamentos vagavam longe enquanto eu fitava a parede branca sob a janela a minha frente sem realmente enxergá-la.
Contemplava no interior da minha cabeça uma gama enorme de prováveis diferentes futuros que poderiam resultar da minha decisão naquela ocasião.
E por que é que eu estava pensando tanto em algo tão incerto?
Havia uma princesa em minha cama que oscilava entre acordada e dormindo.
...Ok. Talvez ela estivesse mais dormindo que acordada. Mas volta e meia ela olhava pra mim e falava alguma coisa.
Confesso que em meio a tantos pensamentos não conseguirei lembrar exatamente o que ela dizia, mas tenho a ligeira impressão de que era algo a respeito de como eu estava sério e pensativo.
E como poderia não estar?
Eu não fazia a menor ideia do que fazer com o que estava sentindo por ela. Ainda mais quando somado ao fato de morarmos tão longe.

Lembrando disso agora, acho irônico o fato de eu, uma pessoa sempre tão racional e calculista, ter simplesmente deixado pra lá todas as possibilidades que estava ponderando até então e me deixado levar pelo impulso emocional.

- Haha! É o efeito da Lua em Marte. - diria ela mais tarde acrescentando uma boa dose de risos e provocações. - Você não conseguiu resistir ao meu charme!

NÃO! NÃO CONSEGUI MESMO, OK?! E não me arrependo nem por um momento disso.
Mas na ocasião eu simplesmente tive que me contentar em ir dormir sem saber o que fazer...

Capítulo 1: O Dia Seguinte

Eu não vou ser nenhum pouco direto. Não vou contar logo de uma vez o que aconteceu no dia seguinte.
Digo que apesar de termos dormido na mesma cama por algumas horas durante algumas noites nada aconteceu além de dormir.
...Bem, não exatamente.
Em toda sua fofura majestosa enquanto dormia a garota em questão acabava se aproximando de mim e se aconchegando confortavelmente de forma a me espremer contra a parede.
...E assim me obrigava a pular sobre ela para ocupar o lado da cama que ela havia deixado vazio.
Isso apenas para mais uma vez ela começar a se mover e então, mais uma vez se aconchegar de forma a me empurrar para fora da cama.
... O que me obrigava a mais uma vez passar por cima dela e ir para o outro lado.
Eis que nessas ocasiões volta e meia ela acordava e simplesmente não estava nem aí.
Eu não sabia ao certo se ficava lisonjeado com a confiança que ela estava me dando já que apesar de sermos amigos por tanto tempo ainda eramos solteiros e do sexo oposto. Se estranhava o fato dela não se incomodar comigo simplesmente passando por cima dela a cada vez que era pressionado em direção ao chão ou contra a parede. Ou se simplesmente acreditava que ela estava tirando um barato com a minha cara me empurrando de um lado para o outro.

...O mais provável é que fosse uma somatória das três coisas onde sua estranha falta de incomodo podia ter associação com uma estranha confiança na minha pessoa e resultado num processo onde inconscientemente ela se divertia me empurrando.

De qualquer maneira, nada disso muda a sensação que eu tinha a cada vez que ela se aconchegava em meus braços.
Seu rosto, mais calmo e menos sério do que quando acordada, me fazia querer protegê-la e mantê-la aninhada carinhosamente por quanto tempo fosse necessário. Pra sempre, talvez...
E as palavras que um dia ela havia me dito a respeito do quanto desejava apenas um pouquinho de paz ecoavam na minha cabeça.
Quando dei por mim... Eu queria muito dar isso para ela.

No outro dia, acordada, fomos passear em uma praça perto de minha casa.
Sem saber do potencial magnético que ela possuía e ainda possuí para atrair chuvas, acabamos sendo atingidos por uma.
Nos abrigamos temporariamente num restaurante próximo e eu só pude confirmar algo que já havia reparado.

...Como a natureza é injusta.
Enquanto eu acabei parecendo alguma espécie de labrador vira-lata, ela por sua vez só conseguiu ficar mais linda quando ensopada pela chuva.
E diferente do que provavelmente aconteceria com a maioria das garotas que existem por aí, ela não estava nem aí de estar molhada daquele jeito.
Na verdade até ria.

Não demorou pra eu perceber o quanto aquela garota dotada de uma tremenda capacidade de me tirar do sério, também parecia ter uma tremenda capacidade de me encantar.
E sem perceber como gradualmente isso ia ficando cada vez mais perigoso, eu simplesmente continuei ao lado dela até... O Dia Seguinte.

Ela estava preguiçosa na cama e relutante a se levantar e acabei deitando ao lado dela.
Eu realmente não lembro o que estávamos conversando, mas eu sei que acabei dizendo:

- Eu vou te beijar.

E eu nunca havia tido tanta certeza de que queria fazer isso.
Nunca fui de tomar a iniciativa, quanto mais declarar em alto e bom som o que pretendia e... Executar realmente o que pretendia!!!
Não foi um beijo longo. Na verdade foi bem rápido.
Eu não havia pensado muito e não sabia o que esperar. De fato uma parte de mim torcia para que ela também quisesse me beijar, mas... O resultado foi uma garota linda me encarando com olhos confusos que simplesmente me deixaram ainda mais perdido do que eu estava antes e sem graça.

...E minha imediata sensação foi de: "Oh fuck... Acho que fiz besteira".

Esta é minha namorada. Desde o princípio me enlouquecendo...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Dona Thata

Post mood: Gackt - Emu for my Dear

Hoje foi um dia especialmente longo.
Apesar de ter ouvido com uma certa frequência das mais diferentes pessoas o quanto eu sou "sem noção", isso nunca havia sido um problema para mim... Ou pelo menos não tanto quanto atualmente.
...Muito provavelmente por que eu não ligo muito pras pessoas. Não tanto quanto ligo para a Dona Thata.

Dona Thata é minha namorada.
Ela tem os olhos verdes que costumeiramente ficam escondidos atrás de óculos de xerife numa expressão que costumeiramente talvez pareça um pouco séria.
...Como quando está dirigindo.
Eu nunca contei pra ela, mas já pensei em comprar uma sirene com luzes vermelhas e azuis... Bem barulhenta... Pra ela poder colocar no topo do carro e causar comoção no transito.
...Mas acabei concluindo que ela provavelmente iria querer o conjunto completo com arma, cassetete e algemas e de alguma forma acho que ia dar ruim. Além de que ia preferir uma sirene rosa... Muito provavelmente.

Em condições ideais seu humor tende a permanecer estável.
...E por "condições ideais" eu aprendi, na raça, que significa: Estar bem alimentada, estar bem descansada, ter banheiro por perto e em temperatura agradável.

Já em condições extremas ninguém sabe o que pode acontecer e eu geralmente temo pela minha vida.

Ela me conta sobre seu dia a dia. Sobre o estágio e a faculdade. Sobre os colegas de sala e trabalhos. Sobre sua família e os gatos de sua casa. Sobre pôneis, sobre o "universo parça", sobre seus desenhos e as coisas que quer fazer.
E então ela diz: "...Imagina que loko". E nessas horas algumas vezes eu tenho a oportunidade de ver seus olhos brilhando numa clara cena de quem realmente está viajando num pensamento elaborado a respeito de alguma ideia divertida.
É ela quem eu coloco pra dormir enrolando na coberta até fazer um casulo para acordar como uma borboleta. E que me assiste jogar lol até cair no sono.
É a pessoa de quem eu roubo as cobertas no meio da madrugada. E que costuma roubar minhas cobertas também.
...De vez em quando também me dá uns golpes. Cotoveladas, socos... Mas eu mereço. Só não vou contar por que.

É a pessoa que entra dirigindo no shopping já dizendo: "Quer apostar que eu vou conseguir uma vaga de primeira?".
...Toda vez ela diz.
...Toda vez ela consegue.
E então há 90% de chance de que a próxima parada seja o cinema ou o yogurt.
Tá... Isso na foto não é yogurt. É sorvete... Mas sorvete também serve.
Ainda mais quando adquirido numa feira de produtos naturais onde até a dona da marca de cosméticos a conhece.
...Na mesma feira onde ela me deu suco de gengibre pra tomar. @___@


É pra ela que eu mando fotos como essas...


...Pura sedução (Só que não).
A ideia é faze-la rir e assim, quem sabe, ganhar meu dia.
Por que meu dia não fica feliz quando ela não está feliz.
Em compensação, pode estar nevando tijolos do lado de fora, se ela sorri do lado de dentro a casa se enche de sol.
...Mas não muito sol por que ela não gosta.

E então ela vira pra mim e pergunta: "Que foi?"
Só por que eu estou há alguns segundos olhando para ela com uma cara ainda mais boba que de costume... É complicado estar apaixonado.

É ela quem dá aquele toque de aventura aos meus dias quando me acorda com uma ligação que faz com que eu sinta como se tivesse sido atropelado por uma kombi que me arremessou pirambeira abaixo direto para a boca de um crocodilo saltitante.
Quando se esquiva do urubu que por motivos desconhecidos resolveu investir num rasante contra o carro.
...Quando sou eu quem está dirigindo e ela me assusta com um caminhão a 2km de distância a frente... Ou me manda entrar numa rua que é contra-mão.
Quando me convida pra nadar no mar...
E claro... Sem esquecer das aranhas e pererecas sempre presentes nos passeios a Pedra Azul.

Entre suas habilidades especiais, que não são poucas, se destacam a capacidade de me tirar do sério, me tirar a paciência, me tirar a calma, me tirar o chão, me enlouquecer, me pentelhar e tantas outras que só ela consegue.
Também tem a habilidade de ser fofa ao extremo, nervosa ao extremo, perigosa ao extremo e principalmente... Talvez por causa disso tudo somado... A capacidade de fazer tudo se tonar melhor quando está perto.


...E então eu realmente fico triste por ser tão sem noção.
Por que realmente não gosto quando a magoo.
E a amo a ponto de realmente chorar.
E entre tantas coisas que só ela me leva a fazer e não faria por mais ninguém... Faço um pedido para o universo...

"Por favor, permita que ela seja sempre feliz."

terça-feira, 10 de junho de 2014

Do Fim do Universo

Post mood: Child of Light - Full OST

Olhar para a vida de onde eu olho torna as coisas ao mesmo tempo tão simples e complicadas.
Do fim do universo todas as coisas são iguais... Tudo tem o mesmo valor.
Ao esbarrar em um formigueiro você não perde tempo comparando formigas.
"Comparar"...
É necessário prestar mais atenção nas coisas caso você queira comparar.
É necessário notas as diferenças...
Mas na minha realidade as diferenças são eliminadas e todos os processos são igualados.
Originalmente todos os seres humanos são apenas humanos... E todos os humanos são animais como todos os animais...
...Todos animais, sendo complexos biológicos, são como árvores e plantas...
E todas as plantas sendo feitas de átomos são como todos os objetos inanimados que existem em nosso mundo.
Um mundo como todos os outros que existem em nosso sistema solar.
E um sistema solar tão igual a todos os outros que existem no universo.
Tratar de forma diferente um ser humano e uma pedra é um processo irracional. É puramente emocional.
...E então as emoções determinam o valor e a ação.
Esta é outra forma de comparar.
Prestando atenção no quanto alguma coisa realmente importa pra você em relação a outras coisas a seu redor.
Prestando atenção nas emoções vinculadas a essa somatória de conjuntos de átomos que categorizamos nos mais diferentes complexos.
Atenção no que vem de dentro...
Raciocinar sobre o irracional...

Ou talvez justamente o contrário...
...Apenas sentir...

E talvez não seja tão complicado assim...
...Sentir.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Batendo de Frente

Post mood: Gackt - Emu for my Dear

Eu preciso escrever todos os dias durante 30 dias consecutivos.
Não tem sido algo tão simples para mim.
Ontem eu percebi o quanto se tornou complicado expressar minhas emoções e meus pensamentos em palavras. Não por que elaborar o conteúdo da mensagem seja difícil, mas sim por que alguma parte de mim concluiu que eu não devo fazer isso.
Talvez sejam segredos que desejo manter distantes até mesmo de meu próprio conhecimento. Talvez em alguma ocasião eu simplesmente tenha determinado que seria melhor assim...
...Não importa....
A verdade é que o motivo não importa.
Por mais que seja incompleto, eu tenho conhecimento a respeito de meu próprio funcionamento. Sei das possíveis consequências de minhas ações em relação a mim mesmo... Sei que algumas coisas podem simplesmente me sabotar ainda mais...
Então... Por mais que não seja simples, eu tenho de bater de frente.
Ao reconhecer que estou me impedindo de escrever o que sinto e o que penso... Eu tenho que bater de frente.
Se eu quero mesmo concluir não apenas estes 30 dias, mas também os livros e histórias que eu comecei, não posso permitir que estes mecanismo me acorrentem.
...Eu vou bater de frente.

E vou continuar batendo até conseguir...

Afinal... Não foi sempre esse o meu estilo?

Persistir... Teimar... Cair e levantar... Continuar...
Repetindo pra mim mesmo como um mantra... "Eu não vou desistir...".
Estar mais sábio agora, mais experiente, não muda o fato de que esta sempre foi uma das minhas maiores ferramentas: A capacidade de suportar o dano e continuar forçando até mesmo quando a maioria das pessoas já teria desistido.

"Cai dentro..."

Eu me desafio...
Eu aceito o desafio...

"Concluí mais um texto. Quem é que manda agora, inconsciente de merda?!"

domingo, 8 de junho de 2014

Regras

Post mood: Gackt - Emu For My Dear

No final das contas as coisas são mais simples do que parecem...
E justamente por isso não importa o quanto eu chegue a odiar as "regras"... Estes "princípios"... Eles ainda estarão lá e através deles as coisas se tornarão fáceis.
Saber disso, no entanto, não quer dizer que eu aceite a situação de estar preso a esta condição.
...A condição de, assim como todos os outros humanos, estar condenado a ser regido pelas mesmas regras.

Agora... Enquanto escrevo isto... Penso em apagar tudo e começar do zero.
...E realmente apago. Faço as palavras desaparecerem da tela para então me obrigar a trazê-las de volta com um comando.
Não devo mais eliminar estas emoções. Não devo me impedir de senti-las.

E o resultado é uma grande contradição.

A sensação de ter uma parte de mim desejando com força eliminar as palavras junto com tudo o que sinto nesse momento é tão intensa que faz meu peito doer.

No final das contas as coisas são mais simples do que parecem, não é mesmo?
E justamente por isso não importa o quanto eu negue... Eu também fui programado pelas minhas escolhas e pelas recompensas que o ambiente forneceu aos meus comportamentos inconscientes.

Saber disso tem de ser o suficiente para me por no controle...
...Ou pelo menos me fazer sentir como se estivesse no controle...

Pois nunca importa a situação na qual você se encontra. O que importa é como você se sente a respeito... Não é mesmo?

...E ouvir a musica que ouço agora cutuca por dentro...

Existem coisas que eu simplesmente não sinto que posso aceitar.
Partes que não sei como tirar do silêncio.

sábado, 7 de junho de 2014

Yue Jaded - Encontro na Floresta

- É melhor se afastar um pouco, Amethista.

Apesar da voz de Yue permanecer calma como sempre, a garota pode perceber a tensão no ar.
O garoto e a garota na frente deles não pareciam ter nada de comum. Pelo menos quando comparados a todos os humanos que ela havia visto até então.
Estavam vestidos ambos de preto. O garoto, um pouco mais alto, tinha os olhos num tom verde tão vivo que parecia emitir luz própria, mantinha a cabeça baixa com a franja de cabelos prateados caindo a frente do rosto, mas sem impedir seu olhar sério de atingir Yue. Carregava na mão direita uma espada japonesa cuja lamina era tão longa quanto seu próprio corpo de não mais que quatorze anos.
Já a garota, igualmente séria, tinha os olhos alaranjados e o cabelo loiro, liso e comprido até sua cintura. Usava um vestido franjado que combinava com seus aparentemente dez anos. Estava de costas para seu parceiro e não se preocupava em focar Yue. Deixava pender das mãos uma foice presa por uma corrente e mesmo assim ainda tinha um ar fofo vinculado a sua forma infantil.
Amethista sentiu que era uma boa ideia obedecer e começou a se afastar alguns passos para trás sem desviar os olhos das duas figuras que barravam o caminho.

- Quem são eles? - ela perguntou enquanto tomava distância.
- Antigos companheiros... Talvez. - ele respondeu ao reconhecer o simbolo que os dois tinham tatuado nas mãos que carregavam as armas. - Ou algo do tipo...
- "Companheiros"? - repetiu o garoto em tom irônico. - Não me faça rir, Yue. Você sempre falou muita merda.
- Jahey... Você está falando palavrões de novo. - falou a pequena com frieza na voz enquanto olhava um pássaro pousado num galho de árvore.
- Desculpe Kaily. Esse cara me tira do sério.

Yue coçou a cabeça apenas com o dedo indicador da mão direita enquanto observava os dois com curiosidade.

- Me render, é? Bem... Isso vai ser meio problemático.
- Problemático? - repetiu Jahey.
- Acontece que no momento estou a caminho de um pic nic. Será que posso me render depois disso?
- Como é?! Seu filho da puta de merda! Tá de onda com a minha cara?!
- Jahey!!!
- Sabe como é... Estamos planejando isso já faz algum tempo e seria um desperdício. Temos muita comida. Querem nos acompanhar?

O garoto Jahey cerrou os dentes e apertou a espada entre os dedos. Seu rosto ficou vermelho quando o sangue lhe subiu e parecia fazer um grande esforço.
O que veio a seguir foi uma sucessão de xingamentos tão diversos e tão sujos que fariam um padre infartar. Logo em seguida um soco de Kaily atingiu o garoto no peito. O movimento não teve nada de demais, de fato poderia ser considerado até mesmo lento, mas foi o suficiente para arremessar o garoto metros para trás e fazê-lo atravessar uma árvore que estava no caminho.
A árvore caiu e seu tronco quase atingiu Yue, errando apenas por pouco mais de 1 centímetro e fazendo Amethista soltar um gritinho de susto. Ainda assim ele nem sequer se moveu.

- Eu avisei, Jahey.
- Desculpa, Kaily! - gritou o garoto de onde tinha ido parar.
- Vamos acabar com isso... - falou a garotinha, finalmente voltando sua atenção para Yue. - Peço desculpas, mas não podemos aceitar seu convite, senhor Yue. E uma vez que o senhor não deseja se render neste momento seremos obrigados a lutar.
- Não o chame de senhor!!! Droga, Kaily! Não precisa ser tão educada! - o garoto gritou novamente. Já estava de pé e parecia muito bem para quem havia acabado de levar um golpe tão forte.
- Bem... Entendi. Se esse é o caso, então... - replicou Yue.

A garota ergueu sua arma e entrou em posição de luta.

- Espere, Kaily! Eu acabo com esse viadinho de mer... Digo, com Yue Jaded. Eu acabo com ele.

Ela olhou para Jahey, deu de ombros e começou a baixar a arma.

- Espere! - foi a vez de Yue falar. - Posso pedir pra que venham os dois de uma só vez?
- Os dois?! - gritou Amethista de longe. - Yue! Não!

Como se sempre estivesse estado lá, um gato branco e um pouco gordo pulou do alto de uma árvore diretamente para perto dos pés de Amethista.

- Não se preocupe. - o gato falou. - Vai ser mais rápido desse jeito.
- Mas Ikaos...!
- Acredite em mim... Eu sei do que estou fa... lando. -a ultima parte saiu com o bocejo que foi seguido de uma espreguiçada antes de se deitar.

Do outro lado Kaily havia inclinado a cabeça para o lado e olhava para Yue com um certo ar de curiosidade.

- Idiota do caral... Digo... Você só pode ser muito burro, Yue Jaded. Eu sou mais que o necessário para acabar com você.
- Mas o gato tem razão, não acha? Se forem os dois será mais rápido... Que tal? - Yue olhou na direção de Kaily. - Por favor?

Imediatamente após ouvir as palavras de Yue, Jahey levou a mão vazia de encontro a cabeça e suspirou.

- Bem... Já que você pediu por favor... - respondeu Kaily enquanto reassumia sua posição de luta.

Yue também se preparou. Balançou a cabeça para um lado e para o outro estalando o pescoço, girou os ombros para trás e então parou exatamente como estava antes de fazer tudo isso.

- Podem vir quando quiserem. Estou pronto.

...E Jahey foi o primeiro.
Seu ataque veio na forma de um corte transversal tão rápido que Amethista só conseguiu entender o que havia acontecido quando viu Yue segurando a lamina entre o dedo indicador e polegar da mão direita como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
Seu próximo movimento foi desviar a cabeça para o lado para se esquivar da foice de Kaily que fora lançada de algum lugar alto.

- Garotinha... - Yue falou. - Você ficaria muito triste se eu matasse seu amigo de boca suja?

Foi então que Amethista percebeu que Yue não apenas havia se defendido do ataque de Jahey usando apenas dois dedos como também tinha uma pequena esfera de energia concentrada na mão esquerda apontada para o coração do garoto.

- Terei de pedir que por favor não faça isso, senhor Yue. - respondeu a garota, rapidamente aparecendo atrás de Yue e desferindo um ataque que o obrigou a desistir de sua investida e saltar para o lado para se proteger.
- Já que você pediu por favor... Mas não vou deixá-lo escapar sem um belo castigo para aprender a respeitar seus "senpais".

E assim que disse isso a lamina da espada se partiu exatamente no ponto onde ele estava segurando.

- Filho da puta! - gritou Jahey fazendo com que Kaily olhasse feio para ele. - Minha espada!
- Ops... Desculpa aew. Talvez de pra colar com cuspe, garoto.

A sucessão de ataques que vieram depois disso foram muito mais rápidos, mais violentos e fizeram com que Yue Jaded se movesse mais do que esperava a principio.
Agora, apesar de ofegante, havia inutilizado ambas as armas e aguardava o próximo ataque.
Jahey também parecia estar bem cansado, no entanto Kaily ainda não tinha sequer começado a suar.
Amethista estava surpresa e se pegou até mesmo um tanto empolgada com o desenrolar da luta. Ikaos por outro lado estava esparramado no chão e dormia profundamente.

- Sabe qual é o grande problema do lugar de onde vocês vieram? - Yue começou a falar. - Eles não fazem a menor ideia do que estão fazendo.

Os ataques continuaram, mais fortes e mais intensos apesar da falta de armas. Kaily parecia especialista em condensar a energia em seu próprio corpo e isto tornava cada um de seus golpes talvez ainda mais pesado do que uma bola de demolição. Jahey por sua vez, sem a espada, havia ficado mais rápido e manipulava a energia ao redor para projetar ataques explosivos.

- Tudo o que eu queria era fazer um pic nic. Como é que eu vim parar nessa situação? Digo... Não é exatamente uma coisa que acontece todo dia, não é? Ou alguma coisa que planejamos... "Aaaah! Que ótimo dia para lutar com alguns pirralhos sem noção! Quem sabe não encontro alguns pelo caminho?!"
- Cala essa boca!!! - gritou Jahey.
- Essas crianças de hoje em dia não tem mais qualquer noção de respeito... - Yue continuava a falar enquanto se esquivava com facilidade. Até então todos os seus ataques haviam se concentrado em destruir as armas dos adversários. - Digo... A garotinha pelo menos é educada.
- Muito obrigada. - ela replicou enquanto chutava.... O ar. Yue já não estava mais lá para ser atingido.
- Espero que não fiquem muito chateados se eu os matar aqui.
- Não seria agradável, mas posso entender, senhor Yue.
- Pare de chamá-lo de senhor, droga! De que lado você está Kaily?!

E foi então que Yue mais uma vez se esquivou e o ataque que a garotinha havia destinado para ele acabou por atingir por engano seu próprio companheiro.
Jaded aproveitou o momento de surpresa para atingir Kaily com um soco na barriga. O golpe foi forte o suficiente para erguê-la do chão e em seguida um chute giratório a arremessou para cima e ao encontro de Jahey. Ambos se chocaram contra a mesma árvore. Primeiro um e depois o outro caindo amontoados no chão.
O próximo movimento de Yue foi concentrar uma grande quantidade de energia a frente de sua mão e arremessar ao lado dos dois, mas ainda próximo o suficiente para a explosão fazê-los voar.
Eles não tiveram tempo de levantar. Yue fez este trabalho por eles ao agarrá-los por seus pescoços e os erguer acima de sua cabeça, um em cada mão.
Por um instante a expressão em seu rosto se tornou tão cruel que mesmo Amethista teve medo. Ikaos também já se encontrava acordado e observava a cena com curiosidade. Mas Yue simplesmente largou os dois no chão...

- Senhorita Kaily, certo? - Yue se abaixou e a encarou enquanto ela tossia e acenava um sim com a cabeça. - Imagino que não queira morrer... Então... Me daria licença para que eu vá para meu pic nic agora? Por favor?

A garota o encarou seriamente e pareceu ponderar por um instante, mas... O que poderia realmente fazer?
Então, sem ouvir resposta, Yue piscou um olho e se levantou. Acenou para Amethista e Ikaos e os três voltaram a seguir caminho.

- Você é mais forte do que eu esperava. - Amethista começou a dizer logo que se aproximou. - Quem eram eles afinal?
- Ex-colegas... Ou coisa do tipo.
- De trabalho?
- Acho que podemos dizer que sim...


Eles se afastaram conversando enquanto Kaily e Jahey apenas observavam, ainda no chão.
Foi o garoto que quebrou o silêncio entre eles.

- ...Mas que cuzão. - foi o que disse antes de um forte soco de Kaily o atingir e o arremessar para longe. - Desculpa!!!

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Tempuria: O Pilar de Luz Negra - Parte 01

Os três "jaskots" se reuniram em Tempuria.
Não se sabe há quanto tempo aquele mundo se encontrava naquela situação, mas com certeza não era pouco.
Um mundo congelado em sombras. Inerte e sem vida.
O pilar de luz negra emergia do centro daquele gigantesco e antigo mecanismo. Os circulos de pedra que antes formavam o piso do local agora rodavam e giravam uns dentro dos outros e ao redor de si mesmos. ainda assim, nenhum som podia ser ouvido.
Atraídos pelo pilar os viajantes de moveram.
Para eles, naquela situação, era apenas necessário pensar para onde desejavam se deslocar e desde que o local estivesse em seu campo de visão ou fizesse parte de sua memória, imediatamente apareceriam ali.
Agora estavam na plataforma central do mecanismo. Os círculos giravam a seu redor enquanto diante deles o pilar se erguia imponente para o alto.
A energia era intensa e em relação ao tamanho de toda a construção ao redor eles não passavam de insetos.
Conversavam entre si a respeito do que deveriam fazer, mas de fato nenhum dos três parecia ter uma ideia conclusiva.
Dois deles decidiram subir as escadarias e confrontar a energia do pilar enquanto o terceiro ainda se mantinha distante, buscando talvez outra solução.
Era forte demais... Intenso demais...
Cada degrau que escalavam em direção a densa luz negra era como um atentado contra a própria existência. Ainda assim eles persistiram em seu intento.
Talvez fosse por coragem, talvez desconhecessem as consequências de seus atos ou simplesmente não soubessem o que mais poderiam fazer, mas a cada degrau que subiam também perdiam uma parte de seus corpos imateriais e de suas mentes.
Ainda naquele lugar, do alto e sem que eles notassem, uma mulher observava o cenário sem conseguir enxergá-los.
Em toda Tempuria aquele era o único lugar onde alguma coisa ainda se movia. O lugar onde tudo havia começado e onde ela, Nayri, acreditava que poderia acabar. Por este motivo, não raramente ela voltava ali.
Seu cabelo negro e liso estava mais comprido do que jamais esteve antes e mesmo sua aparência jovem agora havia se transformado na de uma mulher madura, o equivalente talvez a trinta anos humanos. Vestia uma armadura semi destruída além de suas roupas velhas e rasgadas enquanto que mantinha seus olhos firmemente voltados para a plataforma central do mecanismo.
Os mesmos olhos negros que ainda naquela escuridão podiam refletir um estranho brilho vermelho. Os mesmos olhos que agora duvidavam do que havia acabado de ver.
Por mais que Dracos pudessem viver em isolamento por muito tempo, nunca se teve noticias de um que vivesse sequer por tanto tempo, quanto mais sozinho. Ainda assim, lá estava ela, superando os da sua própria mais uma vez.
Primeiro ela pensou estar vendo coisas. Não seria a primeira vez que sua mente lhe pregava peças. Havia se acostumado as miragens e talvez já estivesse meio louca por conta delas, ainda assim procurou observar melhor.
O que seriam aquelas vibrações na plataforma? Aquelas oscilações na energia e no espaço como o ar quente que exala do piso quente no verão que ela nunca havia visto antes?
Não havia mais duvidas... Eram seres vivos... Pessoas...?
Não. Não apenas pessoas...
Ela se levantou se moveu para um lugar de onde podia observar melhor. De onde podia sentir melhor...

- Jaskots... Jaskots estúpidos... - ela sussurrou para si mesma e o pensamento a invadiu com uma revolução de emoções enquanto observava a tênue vibração e energia de dois dos viajantes quase desaparecendo em meio a intensa energia do pilar de luz.

Por um momento ela não soube o que fazer. Talvez estivesse tempo demais sozinha ou não acreditasse no que estava acontecendo. Uma parte de si chegou até mesmo a torcer para que fosse uma miragem. Mas ainda assim só restou fazer o que fez.

- É melhor tomar cuidado! - ela gritou antes de saltar para se aproximar e este foi o primeiro som que os viajantes ouviram desde que chegaram naquele lugar.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Yue e Amethista - Passado

Post mood: Cowboy Bebop - Gotta Knock a Little Hard

- Talvez ela tenha razão. - Amethista falou. Estava sentada no alto do muro no qual Yue estava encostado. Ambos observavam uma paisagem há muito não visitada. Um lago com pedalinhos em forma de cisnes cujas águas refletiam o azul do céu de outono. Yue estava de braços cruzados e contemplava a água se movendo com o vento enquanto ouvia sua amiga discursar.
- E que diferença faz se ela estiver certa ou não?
- Sua vida poderia ter sido diferente. Mesmo agora ela ainda pode se tornar completamente diferente.
- Todos os dias são diferentes, Amethista. E isso não tem relação com o fato de alguém estar certo a meu respeito ou não.
- Você entendeu o que eu quis dizer. - ela replicou enquanto dava um leve chute no ombro do parceiro.

É claro que ele havia entendido.
O simples fato de estarem ali depois de tanto tempo significava isto.
Amethista pulou de onde estava e os dois começaram a caminhar em silêncio. O vento soprava frio contra seus corpos e a garota se encolheu em seu casaco. Yue no entanto parecia não sentir. Estava imerso em seus pensamentos.
Contornaram o lago e começaram a subir uma certa rua. Rapidamente ele percebeu como as coisas estava diferentes apesar de alguma coisa dentro dele jurar que aquele lugar nunca iria mudar. Talvez fosse o que esperasse num desejo inconsciente... Mas o que é que realmente nunca muda?
Algumas quadras para cima e era hora de virar a direita.
As pessoas daquele lugar pareciam tão desconfiadas quanto de costume e olhavam curiosos para Yue e Amethista em seus trajes estranhos que deixava bem claro que não eram da cidade.

- Nossa... As coisas realmente mudaram por aqui, não é mesmo? - Amethista comentou enquanto olhava ao redor. - Para onde vamos agora?
- Você sabe para onde vamos.
- Só queria confirmar. -  e sorriu. A garota estava sendo especialmente provocativa naquele dia. - Você vai parar para um chá ou coisa do tipo?

Yue não se deu o trabalho de responder, apenas continuou procurando o lugar certo com o olhar. Será que ainda estaria lá?

- Você acha que errou, Yue? - Amethista perguntou de repente e sem qualquer cerimonia.

Ele parou de andar.
Ainda não haviam chegado ao destino, mas ele não esboçou mais qualquer movimento depois de ouvir a pergunta de Amethista.
Se ele havia errado? Bem...

- Não precisa responder se não quiser, mas pelo menos uma vez eu gostaria de saber como você realmente se sente a respeito de algo.

Não era apenas por curiosidade que a garota estava perguntando e  Yue pode sentir a preocupação que ela carregava na voz..
E como é que ela não estaria preocupada? Não era tão simples assim afinal, não é mesmo?
Ele não estava sozinho.
Ali, logo atrás dele, estava Amethista... A realizadora de desejos que inicialmente fora criada com um único propósito.
...Um propósito nunca atingido e agora talvez perdido para sempre em meio as ruínas de um passado complicado..
E então... Se ele achava que havia errado...?
Yue se virou para Amethista e a encarou com seu olhar sério. Ele tinha um meio sorriso estampado no canto dos lábios que dificultava saber o que se passava em sua cabeça e coração.

- Errar é perigoso, Amethista. - ele falou. enquanto erguia o punho fechado e o apontava pra garota. - E talvez eu seja um homem perigoso por errar tanto e pro tudo o que errei até hoje. Mas talvez o que você realmente queira saber é se eu me arrependo...
- E você se arrepende?

Ele baixou a mão e o braço e olhou para o céu. Algumas nuvens brancas passavam devagar por aquela imensidão azul que o lembrava de uma certa baixinha. Yue não conseguiu evitar sorrir diante da recordação e seus olhos brilharam com a claridade do dia.
Amethista o observava com atenção. Ele respondeu de olhos fechados e sentindo o vento gelado soprar contra seu rosto.

- Eu sou metido... Sou arrogante... Sou presunçoso... E muito egoísta. Arrependimento não é uma coisa que combina comigo, não acha? - e então se virou para encarar a garota diretamente nos olhos.

Ali estava.
Aquela expressão de desafio que há muito tempo Amethista não via.
A expressão que Yue tinha estampada no rosto em cada uma das ocasiões que subjugou um inimigo mais forte ou estava prestes a fazer algo terrivelmente insano ou idiota.

- Não... Realmente não combina em nada com você.

Ela se aproximou e deu um soco leve contra o peito de Yue.
Naquela único momento, com palavras tão simples, era como se um peso tivesse sido retirado de seus corações.

- Qual é o seu desejo, senhor Yue Jaded?
- Vamos embora daqui. Cansei desse povo olhando pra gente como se fossemos alienígenas.
- Que? E a visita para o chá?
- Eu passo! Se quiser você sabe onde encontrar a Sayaka e o Karasu.
- Você realmente não entende uma piada, não é mesmo?

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Yue e Rebeca: Fúria

Post mood: Ellegarden - Space Sonic

- Eu preferia arrancar sua cabeça. - Yue disse por entre os dentes cerrados. Segurava sua espada com firmeza e encarava o adversário com fúria poucas vezes antes vistas. - E provavelmente é isso mesmo que vou fazer.

Ele fincou a espada no chão e a usou para se levantar.
Seu corpo estava ferido em diversas partes. Algumas escoriações e arranhados de todas as vezes que foi arremessado e outros tantos cortes feitos pela espada do adversário.
Seu sangue escorria e se misturava com a sujeira e o suor.
...Mas ele não ligava.

- Vai arrancar minha cabeça? É mesmo?

A voz do adversário era irônica e acompanhada de um sorriso.
Em comparação a Yue ele estava em ótimo estado. Era mais forte, mais alto e seu único ferimento era um corte não muito profundo no braço esquerdo.
Usava uma meia armadura que protegia seu tronco e botas de metal que não pareciam atrasar em nada sua movimentação.
Os olhos do adversário eram de um tom azulado quase cinza e o cabelo loiro curto caindo suado a frente do rosto só aumentava sua expressão de desafio.
Yue não perdeu tempo. Assim que terminou de se por de pé já partiu para mais um ataque obstinado e carregado de ódio.
O primeiro ataque foi aparado pelo adversário e suas pesadas espadas se encontraram numa chuva de faíscas. Afastaram-se e voltaram a pular um sobre o outro, chocando as armas uma vez após a outra em pesados golpes.
A altura do adversário lhe dava vantagem no movimento e por mais que Yue, sem armadura nenhuma, fosse ágil como um gato, ainda assim alguns golpes acabavam o atingindo de raspão. Foi dessa forma que acumulou os cortes. Já as escoriações era devido a força do adversário que volta e meia o empurrava ou jogava para trás. Nessas ocasiões Yue era obrigado a rolar como podia e voltar o mais rápido possível para uma postura defensiva.

- Quando eu acabar com você, não vai sobrar nada. - Yue continuou a falar. - Eu vou arrancar a carne dos seus ossos... E faço questão de te deixar vivo até o ultimo momento para sinta tudo.
- Palavras ousadas para quem está prestes a morrer! - replicou o adversário enquanto desferia mais um dentre tantos golpes que haviam jogado Yue para trás.

...Mas não importava.
Não importava quantas vezes Yue fosse levado ao chão. Não importava quantas vezes fosse arremessado ou atingido de raspão.
Ele se colocava rapidamente de pé e de imediato partia para um novo ataque.
Não havia pausa para recuperar o folego. Não havia pausa alguma!
Apenas uma sucessão de investidas carregadas de raiva que começavam a pesar sobre o adversário que não conseguia atingir um ataque critico sequer apesar de já ter tentado de tudo.
A principio ele quis eliminar Yue o mais rápido possível e focava sua cabeça ou seu tronco, mas com a agilidade do garoto a tarefa não era assim tão simples. Mudou seu plano e passou a objetivar as pernas e talvez os braços, eliminar um membro qualquer para que Yue parasse de mover. Desde então não havia conseguido nada além de gerar arranhões com a ponta de sua espada e acumular cansaço.

- Eu vou fazer você sangrar! - Yue gritou quando mais uma vez competiam força com espadas cruzadas. O adversário impunha seu peso sobre a arma e ainda assim o garoto resistia. - Eu vou fazer você sentir dor!!!

Eles se moviam e forçavam as armas uma contra a outra até Yue gritar e girar seu corpo num impeto de violência. Foi a primeira vez que o adversário foi empurrado e estaria morto se não fosse por sua armadura.
A espada de Yue abriu um rasgo no metal como se fosse feito de papel, mas ele não parou por aí.
Mais uma vez avançou para o ataque e mais uma vez as espadas se chocaram.

- Vou começar arrancando seus dedos... E então sua mão... E eu vou cortar cada pedaço de você até não sobrar nada! - o garoto continuava discursando enquanto atacava e o adversário já não tinha mais forças para responder.

Na verdade ele já não se sentia mais seguro de que conseguiria escapar.
Estava afundando naquela situação enquanto Yue, movido pela raiva, mantinha seus ataques crescendo sem parar. Cada vez mais fortes, cada vez mais pesados e sempre tão contínuos....
E então o próximo ataque veio... E mais um... E o último.
A espada do adversário voou pelo ar. Yue largou a sua simultaneamente e sem perder tempo pulou sobre o adversário desferindo um forte soco em seu rosto.
Os dois foram ao chão e Yue sobre o grande homem não parou de bater.

De onde vinha toda aquela raiva?

O homem não tinha mais qualquer força para reagir, estava largado de costas no chão com Yue sobre ele segurando-o pelo pescoço com a mão esquerda e erguendo a direita em punho cerrado pronto para socar.
A unica coisa que conseguia era torcer para que tudo acabasse ali e aquele demônio furioso não levasse a cabo as torturas que disse que faria.
Yue estava pronto pra desferir o golpe de misericórdia quando foi atingido.

Em poucos segundos ele estava sendo arremessado ao chão por alguma outra pessoa que vinda de um ponto cego simplesmente pulou sobre ele.

- Yue... - ele ouviu uma voz familiar chamar no breve momento em que ainda estava de olhos fechados.

Ali, de costas contra o solo, ele sentiu o abraço quente apertar seu corpo dolorido e aquele perfume entrar em seus pulmões. Sua mão, ainda fechada e pronta para socar, começou a relaxar até se abrir completamente e repousar sobre os cabelos da garota que tinha  a cabeça apoiada contra seu peito.

"...Rebeca."

domingo, 1 de junho de 2014

Yue e Rebeca - Cena na Sacada

- Eu pensei que você não gostasse de festas. - Rebeca falou enquanto se aproximava sorrateiramente. - Apesar de que... Pra você ficar aqui sozinho por tanto então realmente não deve gostar.

Yue virou a cabeça lentamente e fitou a garota.
Ela estava em um vestido vermelho sem decote que terminava pouco acima do joelho e combinava com seus olhos. Havia um grande laço nas costas acima do quadril e o par de fitas descia simetricamente em relação as suas pernas definidas. Seus cabelos igualmente vermelhos estavam cada vez mais compridos e apesar de já atingirem a altura dos ombros, naquela ocasião estavam presos em um penteado que deixava duas mexas da franja caindo uma de cada lado do rosto. Atrás da cabeça o cabelo estava preso em um rabo de cavalo enfeitado com pedras brilhantes.
Ela segurava na mão esquerda uma taça ainda bem cheia de vinho e na outra seu par de sapatilhas.

- E aí... Que tal? - disse ela enquanto dava uma volta ao redor de si mesma.

Rebeca tinha pouco mais de 1,60m de altura, era magra e não muito encorpada, mas naquela ocasião, mesmo se quisesse, Yue não teria como negar...

- Você está linda, Rebeca. - ele respondeu.

E ela realmente estava.
A garota sorriu e bebeu mais um pouco de vinho enquanto se aproximava de Yue, que novamente havia desviado sua atenção para as estrelas no céu.
Ela colocou suas sapatilhas sobre a murada e depois apoiou a mão direita sobre o ombro do parceiro.

- E aí, o que está procurando no céu?
- Nada em especial.
- Sei... O caminho de casa talvez?
- Talvez...

Havia algo de estranho no comportamento da garota e ele podia perceber. Talvez fosse apenas a bebida, mas imediatamente desviou seu olhar na direção de Rebeca e fez uma cara desconfiada.

- O que você está tramando, Rebeca?
- Tramando? Eu?! Hahaha!!! - e levou a taça até a boca enquanto que com o canto dos olhos procurou olhar para Yue para ver se ele a estava olhando... E que droga, ele estava. Perceber isto fez com que seu gole de vinho se transformasse na taça inteira descendo por sua garganta de uma só vez.
- Quanto você já bebeu? - ele perguntou logo em seguida.

Ela colocou a taça ao lado das sapatilhas sobre a murada e suspirou profundamente recuperando o folego.

- Não o suficiente, pelo visto.

Dessa vez Yue virou o corpo todo na direção da garota e a olhou com olhos ainda mais desconfiados.
Ela, percebendo o movimento, tratou de desviar o olhar para qualquer outro canto que não fosse onde ele estava.
Mas ela podia sentir. Mesmo sem ver ela sabia que ele continuava ali parado a encarando pelas costas com sua cara de "O que você está aprontando, mocinha?". Por quantas vezes eles haviam passado por situações parecidas desde que Yue Jaded havia se tornado seu Protetor?
Pensar nisso a fez sorrir. "E pensando bem... Que se dane."
Ela virou de uma só vez, o encarou nos olhos e falou impetuosamente:

- Você tem que dançar comigo!

..."Não... Pera... Como assim 'Que se dane'?!"

Os segundos constrangedores que sucederam sua ousada ordem foram suficientes para ela concluir que talvez realmente já tivesse bebido demais, mas ainda não o suficiente para não se lembrar da vergonha que estava sentindo naquele momento.
A demora de Yue para responder parecia de propósito e Rebeca apenas o encarou a principio, mas logo surgiu uma imensa vontade de escapar para dentro do salão.
Ela mal teve tempo de desviar seu olhar para lá e tentar se mover quando Yue a segurou pela mão.

- Melhor calçar suas sapatilhas, senhorita Rebeca. - ele falou e a garota lentamente voltou sua atenção novamente para ele. - A menos que queira dançar descalça, é claro.

Rebeca calçou as sapatilhas apenas com a mão esquerda.
Mais tarde ela não conseguiria recordar se havia sido ele quem continuou segurando sua mão ou se foi ela que se recusou a soltar depois de terem se unido daquela forma. Fosse como fosse, ainda estavam de mãos dadas quando terminou de calçar.

- Pronto. - ela falou e sua voz saiu mais como um sussurro.
- Já que podemos ouvir a musica daqui, que tal se dançarmos aqui mesmo?
- Aqui...? - ela perguntou enquanto olhava ao redor. Estavam sozinhos naquela grande sacada sob um estrelado céu noturno de verão.
- Prefere lá dentro?
- Não! Não! Aqui! Com certeza aqui! Aqui está ótimo!

Yue sorriu diante da reação da garota e ela acabou sorrindo também por consequência.
Ele envolveu sua cintura com a mão direita e a puxou suavemente para mais perto de si. Os primeiros passos foram desajeitados, mas logo os dois estavam lentamente dançando ao som da música que a orquestra tocava no interior do salão.

- Yue... - ela falou enquanto apoiava encostava sua cabeça no peito do parceiro.
- Sim?
- Se você pisar no meu pé... Eu te juro que te mato.

sábado, 31 de maio de 2014

Palavras

Post mood: Mega Man 3 OC Remix - The Passing of the Blue Crown

Se eu tivesse que escolher as palavras eu não escolheria.
Não tenho mais a capacidade de distinguir entre o certo e o errado. Justo e injusto... Bom e mal...
Abandonei em algum lugar do passado as coisas que me aproximavam desse tipo de vida.
Talvez tenha deixado passar a própria vida como é conhecida.

Me confundo constantemente. Isso pra mim é normal.
Já que crer em qualquer coisa é sempre tão complicado. A duvida é que é rotina.
E na incerteza da realidade contínua... Do momento contínuo.
Continuo o tempo todo vivendo o tempo que me resta...

...Se é que resta algum.

Digo o que quero dizer a hora em que preciso.
Mas não sei determinar o que é necessidade...
Sentir as coisas como eu sinto é como estar adormecido.
Sonhando acordado com o horizonte infinito.

Cada passo em sua direção é uma frustração, uma agonia.
O objetivo inalcançável de uma verdade esquecida.
Me agarro em mim mesmo. Me abraço.
E por vezes eu simplesmente olho no espelho...

Bom dia...

Aqui estou mais uma vez... Como sempre...
Aqui estou como nunca estive antes.
Dizendo a todos as mesmas coisas que já dizia.
Palavras e mais palavras...

E nem metade do que eu gostaria...

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Yue e Amethista: Cena na Torre

Era uma destas tardes de outono.
Do lado de fora a chuva caía fria e em gotas finas que escorriam pela janela de vidro. O céu estava nublado e nem sequer havia muito vento. Apenas aquele gotejar monótono e contínuo que facilmente nos coloca pra dormir.
Do lado de dentro o fogo ardia na lareira onde uma grande chaleira havia sido pendurada e começava a fumegar.
Havia ali também, no centro da sala sobre o piso de pedra um grande tapete felpudo, de fios altos e marrons onde um gato gordo e de pelo branco dormia confortavelmente. Estava esparramado daquele jeito que somente os gatos sabem fazer.
As poltronas pareciam meio velhas, mas ainda confortáveis. Nas paredes algumas prateleiras repletas de livros e objetos estranhos que não era fácil distinguir o que realmente era decoração ali.
Todo aquele cenário parecia dançar calmamente sob a iluminação do fogo, o que deixava Amethista ainda mais entediada.
A garota sentada numa cadeira de madeira e debruçada sobre os braços apoiados no batente da janela.
As vezes olhava para fora.... As vezes para seu reflexo...
As vezes olhava para uma gota qualquer que escorria no vidro e então de repente não estava olhando pra nada.
Ela já estava piscando mais do que o normal, passando mais tempo com as pálpebras fechadas que abertas quando a chaleira começou a apitar.

- Quanta emoção... - ela resmungou consigo mesma. - A água do chá está pronta. Uauu... Acho que vou infartar de tanta empolgação.

Voltou sua atenção para a lareira e movendo suas mãos no ar fez a chaleira flutuar de onde estava diretamente para a mesinha que ficava próxima a uma das poltronas.
O gato ao ouvir o som abanou o rabo uma unica vez. Talvez apenas para dar mostras de que ainda estava vivo.
Amethista se levantou e decidiu terminar o trabalho com as próprias mãos.
Pegou um dos objetos estranhos que decoravam o lugar, encheu de ervas e mergulhou diretamente dentro da chaleira.
Realizou esta tarefa com o mesmo cuidado que um rinoceronte teria ao tentar passar um fio pelo buraco de uma agulha.
...Então se largou sentada na maior e mais larga das poltronas individuais que havia ali.

- Ikaos. - ela chamou. - Acorda seu gato gordo. Vai chamar o Yue. O chá está pronto.

O gato nem se moveu. Estaria realmente morto?

- Ikaaaooos... - Amethista chamou novamente, sem animo. - Anda... Levanta...

Mais uma vez o gato não se moveu.
Ainda sentada na poltrona, Amethista se curvou para frente e passou a encarar o gato com seriedade.
Apertou seus olhos e prestou atenção. Sua iris roxa reluzia por entre as pálpebras com a luz do fogo enquanto ela mordia levemente o canto do lábio inferior, mantendo-se em silêncio e respirando baixinho.
Por alguns instantes o único som além da chuva e do crepitar do fogo era o de um relógio em outro comodo. E por alguns segundos Amethista realmente achou que Ikaos podia ter morrido... Pelo menos até ele levantar e baixar seu rabo em um movimento único.
A garota se pegou em duvida se ficava alegre por ainda haver vida naquele bicho preguiçoso ou se estava decepcionada...

- Pelo menos teria sido alguma agitação... - resmungou novamente consigo enquanto levantava e decidia ir ela mesma até Yue.

Mais uma vez com o movimento dos dedos fez a chaleira flutuar.

- Por favor, siga-me dona chaleira...

E então saiu daquela sala para uma outra ainda maior onde começou a subir uma escaria de madeira.
O resto da Torre, como era chamada aquela casa estranha, não estava tão quente quando a sala da lareira e por um momento ela sentiu frio. Também não estava tão bem iluminada e a pálida luz de fora acabava gerando sombras em móveis e objetos que assumiam um aspecto assustador.
...Mas não se pode dizer que ela estava assustada. Na verdade, talvez até se alegrasse caso visse um monstro ou fantasma, mas eram apenas móveis e velharias.
Ela parou diante de uma porta de madeira.

- Yue, trouxe o chá. - e bateu na porta enquanto a chaleira flutuava perto dela. - E é melhor que você queira chá. Por que se você não quiser...

Ninguém respondeu do lado de dentro do quarto.

- Yue? - ela chamou novamente enquanto batia outra vez. - Você está me ouvindo? Yue...

Um arrepio correu por sua espinha quando mais uma vez ninguém respondeu, mas talvez fosse apenas frio...
Olhou para baixo e viu uma estranha e oscilante luz saindo da fresta sob a porta.
Sua mão imediatamente subiu em direção a maçaneta.
Ela segurou firmemente e pensou duas vezes antes de girar. Mas girou... E a porta começou a se abrir devagar.
A luz de um ensolarado dia começou a escapar e a cegou brevemente ao mesmo tempo em sentia um calor de verão sendo soprado contra seu corpo pelo vento que emanava de dentro do quarto.
Seus olhos então se acostumaram com a luz e a porta que antes dava para o quarto de Yue, que ficava no alto daquela construção, provavelmente o equivalente ao quinto andar de um prédio, agora era a passagem para um bosque campo verdejante e ensolarado.
A chaleira que até então estava flutuando atrás de Amethista foi direto ao chão. Seu queixo também teria ido, mas uma vez preso pelos músculos da bochecha ele se contentou em ficar largado em boca aberta.
A garota ainda virou para o lado afim de observar a janela que havia no final do corredor, mas do lado de fora a mesma chuva vinda do céu cinza ainda caía.
Ela estava prestes a entrar quando alguém a segurou pela mão, entrelaçando seus dedos com os dela e fazendo a garota desviar a atenção.
Amethista se virou e contemplou Yue.

- Acho melhor deixarmos esse quarto fechado por enquanto, Amethista. - e com cuidado ele começou a puxar a porta para fechar.
- Mas... Por que? Esse lugar é lindo!
- Realmente é lindo, mas... - ele fez uma pausa proposital em seu discurso enquanto fechava e abria novamente a porta. Dessa vez não havia nada ali senão o seu velho e gelado quarto.- ...Prefiro não te perder pra ilusões.

Dessa vez Amethista entrou no quarto e começou a olhar ao redor, incrédula.

- Como você fez isso? - ela finalmente perguntou, depois de alguns segundos.
- Você quer mesmo saber?
- Claro que sim!!! - estava eufórica.
- Eu troco a informação por chá...
- Chá...?

"AAAAAAAAAH!!!! O CHÁÁÁÁ!!!!"

terça-feira, 27 de maio de 2014

Iriahin - A Prisão do Príncipe (Parte 2)

O momento de silêncio constrangedor  que se seguiu enquanto Iriahin sorria foi suficiente para Anderaken se decidir e agir.
Apesar de mal ter entrado no quarto, assim que que concluiu que o filho realmente estava aprontando algo, correu para fora e trancou a porta.
Iriahin ficou perplexo por um momento e não teve sequer tempo para reagir antes do som da chave sendo girada chegar aos seus ouvidos.
O príncipe correu até a porta e começou a bater com os punhos cerrados.

- Oe, pai! Mas que é isso?! - ele perguntou, gritando e iniciando a conversa através da porta fechada.
- Que caia o mundo se eu não estiver certo, Iriahin! Conte-me já o que está planejando ou não vai sair deste quarto!
- Então se segura aí que vai cair!
- Tem a ver com o seu casamento, não é?

Iriahin se calou imediatamente e por um momento só conseguiu pensar: "Velho maldito! Como é que sempre sabe?".
O plano foi executado sem falhas e no mais completo sigilo. Teria sido apenas azar o rei resolver visita-lo justo naquela noite?
De qualquer forma não adiantava mais nada negar. No momento em que Iriahin se calou, Anderaken soube que estava certo e fez questão de deixar isso claro na sua próxima fala...

- Tens uma bela noiva te esperando e um futuro ainda melhor a vir pela frente, Iriahin.
- Bela noiva?! - o príncipe pareceu realmente surpreso com aquela afirmação. - Tem mais beleza num "borthelon" do que em Schell, pai.
- Mas que exagero, Iriahin! Você não acha que já é hora de aprender a se comportar? Você é filho de Anderaken, Senhor de Taslon. É príncipe da Cidade do Amanhecer e deve pensar e agir como tal!
- Pois que seja! Se é dessa forma que diz, então digo que não me caso.
- Sinto muito, Iriahin! Mas até que cresça você não tem como escolher.
- Hehehe. Ah é?! Então eu aceito o desafio, senhor rei!

Aquelas palavras...
Fisicamente pai e filho não eram muito parecidos. Iriahin havia puxado mais a sua mãe que ao pai.
No entanto, em relação a teimosia, orgulho e espirito de luta os dois estavam páreo a páreo.
O que Iriahin fez foi transformar a coisa toda em um jogo para ambos. Um jogo muito importante que envolveria todo o futuro de Taslon e seus cidadãos, um casamento, nobres, promessas e honras e principalmente... Pai e filho.

- Mas você só pode ter ficado louco. Ainda pretende me desobedecer, Iriahin? - retrucou Anderaken em um tom mais sério.
- Eu nunca planejei casar, pra começo de conversa!
- Pois então aceito teu desafio, moleque! Está preso em teu quarto até o dia de teu casamento. Vai ter uma lição do que é desafiar o próprio sangue.
- Ha! Você é quem vai ver! Você não tem como me manter aqui dentro!
- Não por isso, moleque. Há muitas correntes no calabouço!
- ...Ainda soa melhor do que casamento. - constatou Iriahin, refletindo sobre o assunto.
- Pois saia deste quarto e logo descobrirá! Passar bem, meu filho!
- Boa noite, papai!

Havia um tom cômico e infantil na forma como os dois perdiam a paciência e acabavam discutindo.
Iriahin deu um soco na porta e fez uma careta.
Manteve a mão em punho cerrado de encontro com a madeira enquanto respirava bufando por alguns segundos.
Foram momentos de silêncio e introspecção nervosa que se resultaram em um único pensamento final...

- Aaaaah! MAS O QUE FOI QUE EU FIZ?! - ele falou alto enquanto levava as duas mãos à cabeça.

Sem perceber ele havia caído direitinho no jogo de seu pai e agora estava ali, trancado no próprio quarto sem ter a menor ideia de como faria para chegar ao ponto de encontro onde Aldel provavelmente já aguardava.
Não demorou até ele ouvir dois ou talvez três soldados se aproximarem da porta do quarto pelo lado de fora.
Era óbvio que Anderaken não facilitaria e aqueles soldados montando guarda eram um claro sinal disso.
Aquela altura toda a guarda do castelo e todos os empregados já deveriam estar cientes do castigo do príncipe.
Iriahin andou de um lado para o outro no quarto tentando pensar em algum plano, mas...

- Tudo o que posso fazer é não piorar a situação. - falou consigo mesmo novamente enquanto caía de costas na cama.

Os boatos se espalhariam e logo Aldel saberia do ocorrido.
Talvez então tivessem alguma chance.

- Eu não podia desejar melhor começo pra esta aventura... - e sorriu. - ...Se fosse fácil, não valeria a pena.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Estrelas

Por favor, não me ignore. Não dessa vez.
Ouça a minha voz... Por favor... Ouça...
Você sabe que eu estou aqui.
...Você tem que saber...
Feche seus olhos... Sinta...
Eu estou aqui!

Eu sei que você pode me ouvir...
Sei que está cansado. Sei que se sente perdido...
Apenas por um momento preste atenção em mim.
...Mesmo que eu não tenha a saída.

Ouça a música... Ouça com atenção.
Deixe a música te guiar...
Você sabe que pode. Já fez isso antes.
Já fez isso muitas e muitas vezes.

Não é tão difícil quanto parece.
Você consegue...
Apenas ouça... E então...
...Conte-me o que vê...

Eu só vejo estrelas...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A Prisão do Príncipe (Parte 1 )

- Veja isto, Aldel. - disse Iriahin sobre uma enorme escada de onde arremessou um pesado livro para o amigo. Aldel exitou um momento sem saber se agarrava o livro ou desviava dele. Decidiu agarrar. - Página trezentos e oitenta e seis, "A Flor de Lanta".

O naithlyn carregou o livro para uma mesa onde muitos outros já estavam abertos. Folheou as páginas e encontrou a que Iria havia falado.

- A Flor de Lanta é extremamente rara. - começou a narrar em voz alta o texto enquanto lia. Iriahin pulou do alto da escada direto para o chão e se aproximou do amigo. - Encontra-se geralmente em regiões pantanosas de difícil acesso. Seu perfume é tão desagradável quanto os próprios pântanos e a coloração de suas pétalas estão relacionadas com a intensidade do cheiro...".

Aldel parou de falar e se virou lentamente para Iriahin.

- Eu não acredito nisso. - disse o naith.
- Vamos para o norte, Aldel.
- Pântanos nojentos... E perigosos... Não que eu ligue de correr riscos, mas... Por uma flor fedorenta?
- Será divertido!
- Não duvido, mas confesso que odeio pântanos. Além disso, vamos precisar de muita comida.
- Nem tanto. - Iriahin respondeu sentando numa cadeira e colocando os pés sobre a mesa.
- Nem tanto...? - Aldel estranhou, mas logo entendeu. - Você está pensando em cruzar a região sem dono, não é?
- Se é sem dono... - O garoto deu de ombros e quase caiu com cadeira e tudo quando a inclinuou para trás. - Não será por muito tempo.

Aldel estava sorrindo. Sentia o friozinho barriga de ansiedade, mas ainda assim ponderava os riscos de tudo que o amigo estava lhe dizendo.
Pode-se dizer que nesse sentido Iriahin sempre foi mais naithlyn que Aldel.
Uma das características do naithlyns é a despreocupação e a simplicidade de pensamento. No entanto, é provável que em seu curto período de vida Aldel tenha se metido em três ou quatro vezes mais confusões na companhia de Iriahin do que um naithlyn comum conseguiria durante toda sua longa vida. Ter se tornado um gato cuidadoso não é apenas natural, mas uma evolução para garantir sua auto-preservação.
Agora ele coçava com o dedo indicador direito a região da testa próxima a sua gema e Iriahin sabia que isso significava que Aldel provavelmente não estava conseguindo pensar em mais nada problemático.

- Uma aventura geralmente compensa os perigos com riquezas, não é? O que vamos ganhar com isso além da flor fedorenta? Que raios de aventura será essa a nossa?
- Nossa aventura...?

Iriahin se levantou de uma vez só e a cadeira de madeira foi direto de encontro ao chão. Ele inspirou fundo e começou seu teatro.

- É a aventura de um apaixonado! Um louco desesperado! - pulou sobre a mesa e cerrou a mão em punho. - A aventura de um herói disposto a arriscar a própria vida como prova de amor!

Iriahin foi erguendo a mão cerrada para cima como se elevasse uma espada aos céus. Estava tão inserido em seu personagem que seus olhos brilhavam reluzindo as luzes das velas da biblioteca.
Aldel se limitava a assistir. Não era a primeira vez que presenciava um surto teatral de Iria.
Na verdade, aquilo era mais frequente do que pode-se imaginar. Mas para trazer o amigo de volta a realidade ele arremessou um livro que quase o atingiu na cabeça.

- Caro senhor louco apaixonado. Pelo que eu bem te conheço seus maiores tesouros são seus problemas. Mas e a minha parte?
- ...Que tal metade dos meus tesouros e minha eterna gratidão?
- Em outras palavras, nada além da boa amizade.
- Isso... E  metade do que encontrarmos de valor.
- Gosto da parte da amizade e da metade do que encontrarmos de valor. Como sou muito gentil deixo você ficar com seus tesouros problemáticos.
- Quanta gentileza, senhor Aldel! Muito obrigado!
- Então...

Iriahin encarnou novamente seu galante personagem e ainda em cima da mesa voltou a erguer a mão.

- Que se inicie esta nossa nobre aventura em busca do perfume que o amor merece!

Os dois riram muito aquele dia.
Pegaram um mapa e começaram a planejar a rota de viagem. Paravam aqui e ali para comentar sobre as peculiaridades de certas regiões e também para imaginar a cara que Schell faria ao receber tal sinal de afeto.
Decidiram tudo. Dia e horário da partida, onde seria o ponto de encontro, o trajeto que fariam e a quantidade de suprimentos necessário.
Nos próximo dias dividiram as tarefas e as executaram metodicamente tomando precauções para não serem descobertos.
Parecia estar tudo certo, a unica coisa com a qual não contavam era...

- Iriahin. - disse Anderaken, pai de Iriahin e rei de Taslon, do lado de fora do quarto enquanto batia na porta.

Era um homem alto e de porte imponente. Tinha longos cabelos brancos e lisos, olhos azuis escuros como o oceano e pele clara. Sua expressão sempre calma e séria passava a impressão de ser um bom homem e um bom rei.

- Hey, pai! Tudo bem? - disse Iriahin, tentando disfarçar e empurrando sua mochila para debaixo da cama com o pé.

Não era incomum Anderaken visitar seu filho em seu quarto, mas notavelmente Iriahin não esperava por aquilo justo naquela ocasião.
Era como se o rei tivesse farejado no ar que o filho estava prestes a aprontar alguma coisa.
E não era pra menos...
Da mesma forma que Aldel havia aprendido a preservar o que ainda restava de suas vidas de gato, Anderaken também havia desenvolvido habilidades inconscientes de notar alterações no comportamento do filho e ele sabia que para ter certeza só precisava fazer uma pergunta.

- Iriahin... - disse ele em tom sério e desconfiado, propositadamente prolongando a ultima silaba do nome do filho. - O que é que você está aprontando agora?
- Aprontando...? Eu...?

E estava feito...
Os olhos de Anderaken se apertaram e ele imediatamente soltou uma rajada de ar pelo nariz. Sua testa se franziu em preocupação e sua boca se torceu numa notável expressão de desconforto.
Por mais que o rei não soubesse do que se tratava, ele tinha certeza que o filho estava aprontando.
Frente aquilo Iriahin fez a unica coisa que conseguia se lembrar de fazer...


- Hehe... - ...Sorrir descaradamente como cínico culpado.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Iriahin - Príncipe de Taslon

Ouvindo: Symphonic Fantasies - Chrono Medley part 1/2 e 2/2

- Hahaha, veja só isto Aldel... - disse Iriahin com voz irônica enquanto lia uma carta e gesticulava teatralmente para enfatizar o que narrava. - "Não há momento do dia que não pense em você e sinto-me mais feliz a cada nova manhã. Meu amor cresce a cada segundo...". Aí vem um monte de blá-blá-blá... E... Aqui! "Anseio pelo dia em que fitarei mais uma vez o brilho de Taslon em seu olhar...". HÁ! Pois que vá sonhando!

O garoto amassou a carta, jogou para cima e com um chute a mandou para dentro da floresta.
Este era Iriahin, príncipe daquela conhecida como Taslon, a Cidade do Amanhecer, e filho de Anderaken. Um garoto que aparentava não ter mais que dezoito anos. Olhos escuros, castanhos no claro e eventualmente azulados em algumas ocasiões. Cabelos negros e sempre bagunçados apesar de todos os esforços que seus cuidadores reais sempre tiveram para com ele.
De fato, da realeza Iriahin só carregava o título, pois pela aparência e comportamento dificilmente seria tomado por príncipe.
O cabelo despenteado era apenas parte de seu visual. Tinha conjuntos de roupas velhas, sujas e rasgadas guardadas nos mais diversos cantos da cidade e do castelo, prontas para serem usadas sempre que escapava do castelo.
E não é preciso dizer que "escapar" do castelo era algo que fazia com certa frequência. Na verdade os tutores e soldados já não se incomodavam mais em persegui-lo como faziam quando era menor, mas ainda assim Iriahin preferia estas roupas do que as pomposas vestes da realeza.

- Não devia fazer pouco caso do amor da jovem Schell, Iriahin. - replicou Aldel, o amigo que estava sentado em um galho de árvore. - Ela parece sincera em suas palavras.

O garoto não poderia ser mais diferente e ao mesmo tempo não poderia ser mais parecido com o príncipe.
Para começar, apesar de fisionomicamente serem muito parecidos com humanos, nenhum dos dois eram.
Enquanto Iriahin pertencia a raça conhecida como Lumnus, Aldel pertencia aos Naithlyns.
E sendo um naithlyn, Aldel era um amante da liberdade e da arte... Pelo que ele entendia por arte.
Esta raça muito peculiar é dotada da capacidade de mudar de forma, abandonar a aparência humana e se transformar em uma espécie de gato de duas caudas.
...Coisa que os lumnus não podem fazer.
Além disso os naithlyns possuem em suas testas uma pequena jóia que realmente faz parte de seus corpos e varia de coloração e forma de acordo com o indivíduo.
Na forma de gatos seus pelos são da cor e padrões de seus cabelos, no caso de Aldel um tom roxo e espetado. Na forma humana o garoto aparenta ter cerca de quatorze anos, com os olhos e a gema em sua testa, ambos em um tom azul escuro.

- Amor?! Há mais amor nesta árvore em que você está que no coração de Schell, Aldel. - replicou Iriahin. - Ela nunca teria escrito esta carta.
- E como você sabe?
- A letra da assinatura era diferente! Provavelmente o pai contratou algum idiota pra escrever e ela foi obrigada a assinar.
- Se você diz... Mas é tua noiva de qualquer forma, não é? Será tua esposa... E não parece uma boa ideia que ela te odeie.
- Que me odeie até seu coração virar pedra! E isso acontecerá muito antes dela me ter como marido.

Aldel, que até então estava sossegadamente deitado em um galho e recostado no tronco da árvore, finalmente abriu os olhos e voltou sua atenção para o amigo.

- O que quer dizer? - perguntou, já prevendo o que viria a seguir.
- Bem... Eu não posso casar se não estiver aqui, não é mesmo?

Sim... Ele estava com aquele olhar...
E Aldel reconheceu no momento em que viu.
Os olhos brilhando por trás de pálpebras semi-cerradas e um meio sorriso no canto dos lábios. A expressão inconfundível que Iriahin tinha no rosto sempre que estava planejando aprontar alguma coisa.

- Ha! Vai fugir?!
- Fugir? - Iriahin fingiu indignação. - Não! Fugir é um termo muito forte para um problema tão pequeno. Vou partir em uma aventura!
- Sei. - Aldel sorriu. - Por que é que prevejo um rei furioso?
- Antes ele furioso do que eu. Alias, pensando bem... Não fui eu quem prometeu nada. Se ele não gostar, que desfaça essa palhaçada de casamento.

Aldel ponderou por um momento e...

- Faz sentido. - disse antes de pular da árvore para perto do amigo. - Pelo visto você já pensou em tudo.

O príncipe apenas sorriu maliciosamente e os dois se colocaram a caminhar.

- Devemos partir o mais cedo possível. Sei que meu pai já deve suspeitar de mim. Mas lembre-se! Isto não é uma fuga, é uma aventura!
- Pois bem, que seja. Em que se baseia esta nossa aventura?

...E lá estava novamente... Aquele olhar na cara deslavada de Iriahin.
Aldel não pode evitar gargalhar.