O momento de silêncio constrangedor que se seguiu enquanto Iriahin sorria foi suficiente para Anderaken se decidir e agir.
Apesar de mal ter entrado no quarto, assim que que concluiu que o filho realmente estava aprontando algo, correu para fora e trancou a porta.
Iriahin ficou perplexo por um momento e não teve sequer tempo para reagir antes do som da chave sendo girada chegar aos seus ouvidos.
O príncipe correu até a porta e começou a bater com os punhos cerrados.
- Oe, pai! Mas que é isso?! - ele perguntou, gritando e iniciando a conversa através da porta fechada.
- Que caia o mundo se eu não estiver certo, Iriahin! Conte-me já o que está planejando ou não vai sair deste quarto!
- Então se segura aí que vai cair!
- Tem a ver com o seu casamento, não é?
Iriahin se calou imediatamente e por um momento só conseguiu pensar: "Velho maldito! Como é que sempre sabe?".
O plano foi executado sem falhas e no mais completo sigilo. Teria sido apenas azar o rei resolver visita-lo justo naquela noite?
De qualquer forma não adiantava mais nada negar. No momento em que Iriahin se calou, Anderaken soube que estava certo e fez questão de deixar isso claro na sua próxima fala...
- Tens uma bela noiva te esperando e um futuro ainda melhor a vir pela frente, Iriahin.
- Bela noiva?! - o príncipe pareceu realmente surpreso com aquela afirmação. - Tem mais beleza num "borthelon" do que em Schell, pai.
- Mas que exagero, Iriahin! Você não acha que já é hora de aprender a se comportar? Você é filho de Anderaken, Senhor de Taslon. É príncipe da Cidade do Amanhecer e deve pensar e agir como tal!
- Pois que seja! Se é dessa forma que diz, então digo que não me caso.
- Sinto muito, Iriahin! Mas até que cresça você não tem como escolher.
- Hehehe. Ah é?! Então eu aceito o desafio, senhor rei!
Aquelas palavras...
Fisicamente pai e filho não eram muito parecidos. Iriahin havia puxado mais a sua mãe que ao pai.
No entanto, em relação a teimosia, orgulho e espirito de luta os dois estavam páreo a páreo.
O que Iriahin fez foi transformar a coisa toda em um jogo para ambos. Um jogo muito importante que envolveria todo o futuro de Taslon e seus cidadãos, um casamento, nobres, promessas e honras e principalmente... Pai e filho.
- Mas você só pode ter ficado louco. Ainda pretende me desobedecer, Iriahin? - retrucou Anderaken em um tom mais sério.
- Eu nunca planejei casar, pra começo de conversa!
- Pois então aceito teu desafio, moleque! Está preso em teu quarto até o dia de teu casamento. Vai ter uma lição do que é desafiar o próprio sangue.
- Ha! Você é quem vai ver! Você não tem como me manter aqui dentro!
- Não por isso, moleque. Há muitas correntes no calabouço!
- ...Ainda soa melhor do que casamento. - constatou Iriahin, refletindo sobre o assunto.
- Pois saia deste quarto e logo descobrirá! Passar bem, meu filho!
- Boa noite, papai!
Havia um tom cômico e infantil na forma como os dois perdiam a paciência e acabavam discutindo.
Iriahin deu um soco na porta e fez uma careta.
Manteve a mão em punho cerrado de encontro com a madeira enquanto respirava bufando por alguns segundos.
Foram momentos de silêncio e introspecção nervosa que se resultaram em um único pensamento final...
- Aaaaah! MAS O QUE FOI QUE EU FIZ?! - ele falou alto enquanto levava as duas mãos à cabeça.
Sem perceber ele havia caído direitinho no jogo de seu pai e agora estava ali, trancado no próprio quarto sem ter a menor ideia de como faria para chegar ao ponto de encontro onde Aldel provavelmente já aguardava.
Não demorou até ele ouvir dois ou talvez três soldados se aproximarem da porta do quarto pelo lado de fora.
Era óbvio que Anderaken não facilitaria e aqueles soldados montando guarda eram um claro sinal disso.
Aquela altura toda a guarda do castelo e todos os empregados já deveriam estar cientes do castigo do príncipe.
Iriahin andou de um lado para o outro no quarto tentando pensar em algum plano, mas...
- Tudo o que posso fazer é não piorar a situação. - falou consigo mesmo novamente enquanto caía de costas na cama.
Os boatos se espalhariam e logo Aldel saberia do ocorrido.
Talvez então tivessem alguma chance.
- Eu não podia desejar melhor começo pra esta aventura... - e sorriu. - ...Se fosse fácil, não valeria a pena.
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