Ouvindo: Nem te conto...
Lendo: E-mails...
Comendo: Sanduiche...
Bebendo: Suco de pêssego.
Era uma dessas ruas sem saída, larga, repleta de casas. Sob um céu nublado que passava rápido sobre as cabeças, nuvens sopradas por um vento frio que vez ou outra abria um breve buraco que permitia quem uma fração de luz dourada atravessasse.
Eu estava diante de umas crianças, mais precisamente abaixado de frente a uma garotinha de uns cinco ou seis anos de idade.
...E algo me incomodava por dentro...
Não lembro sobre o que falávamos. Provavelmente sobre algo banal... E eu tentava prestar atenção, mas estava por demais ocupado em me forçar a parecer estar bem...
Enquanto isso o pesar aumentava no peito... Crescendo.
Foi muito rápido e eu me movi sem pensar. As palavras da garota a minha frente entraram em meus ouvidos e ao mesmo tempo minha mão descreveu um forte tapa que estalou em seu rosto com violência.
Imediatamente um pesado silêncio se instalou... Estavam todos perplexos.
A garota levou a mão ao rosto vermelho com lágrimas nos olhos e me encarou como se não pudesse acreditar. Um olhar que devolvi da mesma forma, quase em choque...
...Pedi desculpas... Uma vez... Duas... Cinco... Perdi as contas. Impossível dizer quem estava mais assustado... A tomei em um abraço apertado e chorei repetindo minhas desculpas como nunca mais chorei na vida...
E enquanto tentava entender tudo o que estava acontecendo e me dava conta de que havia quebrado minha promessa.
...Acordei.
O lençol e a coberta afastados do meu corpo, o despertador tocando baixo... Meu celular, desligado e recarregando em um canto, parece nem ter se dado o trabalho de tocar.
Percebi que talvez tivesse se tratado apenas de um sonho, que estava atrasado pro colégio e que tinha que me levantar... Mas a toda aquela emoção de apenas segundos atrás rompeu as barreiras do sonhar e me agarrou pelo peito.
Senti cada veia... Cada pedaço do corpo inundado por uma tristeza e um desânimo mortal. Então afundei minha cabeça no travesseiro fiquei encarando o céu nublado, lutando contra toda a irracionalidade de um ataque de depressão tão repentino e tão absurdo.
E sei lá quanto tempo se passou... Muito, eu acho... Até adormecer novamente. Um sono vazio... Oco... Escuro e consciente.
Acordei mais tarde, um pouco melhor, talvez... Mas ainda deprimido. Triste... Cansado... Muito cansado... Pontuando cada atividade com um “pra que?” e um “por quê?”.
Levantar pra que? Sair de casa... Trabalhar...?
Várias mensagens e ligações perdidas do Arturo.
...Também pudera. Ontem mesmo eu havia perguntado pra Manolinha a respeito do Conselho de Classe. Estava mais do que disposto e até mesmo empolgado a participar do circo e causar algum incidente experimental interessante. Enviei e-mail para a sala explicando que haveria aula...
Mas não liguei de volta... Mal tinha disposição pra me arrumar e sair... Comer, então, foi quase um sacrifício.
...Foi um longo dia...
Diria até que ainda está sendo.
Um dia nublado por dentro, sem uma causa lógica, racional... Pontuado apenas por um achado.
Alguns dias atrás eu estava arrumando meu quarto. Limpando... Organizando... E liberando ainda mais espaço onde já há excesso de espaço livre. Encontrei então alguns textos antigos. Histórias de Tempuria e outros lugares, todos guardados sem muito zelo numa pasta velha.
Segue um deles...
As palavras já não são mais tão belas quando escritas. Nem tão alegres ou tão tristes... Nem sequer tão importantes...
Mesmo ali, diante de tantos olhos, ninguém quer saber...
As palavras estão mortas... Vazias... Assim como quem um dia as escreveu.
Assassinadas pela mão do suicida que se arrependeu do que deixou passar.
...E continua a se arrepender... E sempre continuará.
Mas ainda assim as palavras querem ser escritas. Contar a ninguém suas histórias de fantasmas... De alma penada e amargurada, enterrada sob sete palmos de mágoa e uma pesada lápide de frieza...
...Nela o que está escrito parece nunca se apagar.
E nas noites frias, quando o passado bate a porta e pede pra entrar... Pelo papel o lápis desliza... Transformando pensamentos e memórias em palavras...
...Palavras estas que são como lágrimas...
...De alguém que não pode mais chorar...
Sem que qualquer uma destas palavras diga... Há uma pergunta esperando ser respondida.
E nunca pronunciada... Escondida... Ela continuar a aguardar.
Na calada da noite, aquele que escreve também vigia... Esperando que dos mortos seu amor venha a retornar...
Moon Ghost
Vou virar esta noite acordado. Dormir tem sido perigoso...
Eita nóis...começou bem o dia, hein? rs
ResponderExcluirE esse friozinho? Todos os dias penso em faltar no trabalho na hora de sair do edredom. Mas depois do banho, a preguiça passa...rs
Cara... Tenso hein!
ResponderExcluirTalvez seja uma mensagem telepatica de algum pedido de socorro, um resquicio de pensamento perdido no tempo/espaço captado num momento de transição entre o sonho e a realidade... Talvez algo escondido nas brumas da mente sobre algo que ainda se está por fazer, um desejo oculto inconsistente... Ou apenas viadagem mesmo... Vai saber? rsrs
Brinks hein!
Mas gostei do finalzinho do post: "Na calada da noite aquele que escreve tambem vigia..." Posso usar isso algum dia...